Comportamento

Annalice Del Vecchio, especial para a Gazeta do Povo

Adoção: amor sem limites

Annalice Del Vecchio, especial para a Gazeta do Povo
24/11/2013 02:04
A emoção sentida pelo casal Daniela e Alis­­son Fúcio na Vara da Infância e da Juven­­tude em Curitiba ao buscar o filho Pedro, 1 ano, foi tão especial quanto a vivida na maternidade, onde tiveram Júlia, há três anos. “Ao ­­pegá-lo no colo, fui tomada pelo mesmo sentimento que tive no parto normal de Júlia”, lembra Daniela.
Dificuldades
Aristéia Rau, mãe de quatro filhos, dois biológicos e dois adotivos, concorda. “O amor por um filho não está ligado à questão biológica.” Durante a festa de aniversário de 16 anos que organizou para o filho Mateus, adotado em 2011, a reportagem da Gazeta do Povo entrevistou outros casais (personagens desta matéria) que, como ela e o marido, Alberto Rau, adotaram crianças que fogem dos padrões mais procurados – ou seja, menores de 3 anos, brancas e saudáveis. “Costuma-se dizer que os casais são exigentes e, por isso, as crianças fora desse perfil acabam ficando de lado, mas a verdade é que também há muita gente que deseja adotar aquelas mais velhas ou com doen­­ças e não consegue”, explica Emerson Oliveira, pai de Giovani e Maria Eduarda.
“Por conta das dificuldades legais, muitas crianças acabam envelhecendo nos lares”, lembra Maria Rita Teixeira, diretora da Associação Para­naense Alegria de Viver (Apav), que abriga menores portadores do vírus HIV. Isso ocorre porque boa parte das crianças que chega a uma instituição não é destituída do poder familiar ou não é reinserida no seu convívio no prazo máximo de 120 dias, previsto pela lei.
Inclusão
Para exigir o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente e a agilidade no trâmite das ações necessárias para a inclusão de crianças que vivem em abrigos no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), surgem em todo o país iniciativas como o Movimento Nacional das Crianças Inadotáveis (Monaci), criado em Curitiba por Aristéia e Alberto. O movimento vem contribuindo para que crianças que vivem há muitos anos em abrigos sejam lembradas pelo poder público.
Adotar é um ato de muito amor, sem preconceitos, e por isso as condições da criança não devem ser consideradas como impedimento. “Uma mulher grávida vai amar seu filho deficiente ou não, doente ou não. Na adoção, é a mesma coisa”, reforça Maria Rita. Ao adotar seu caçula, Felipe, ela comprovou na prática que o amor de uma família é o melhor remédio para crianças que chegam aos abrigos com problemas. “Quando são adotadas, a família fica ao seu lado 24 horas por dia e acabam se recuperando mais facilmente”, conta.
Amor incondicional
Um ano após se casarem, em 2000, a dona de casa Giane Prcebeniak Oliveira, 43 anos, e o técnico em gás natural, Emerson Batista Oliveira, 38 anos, descobriram que não poderiam ter filhos. Em 2004, começaram a trabalhar como voluntários na Apav.
Foi assim que conheceram Giovani, na época com dois meses, e decidiram adotá-lo. “Iniciamos o processo de adoção, mas assim que novos exames identificaram que ele não tinha o vírus, a justiça entendeu que ele não deveria vir para nós”, recorda Giane. Após muita luta, o casal conseguiu a guarda do menino, que estava com 1 ano e 8 meses.
Com o filho pequeno, Giane decidiu passar mais tempo em casa, mas Emerson continuou a visitar as crianças da Apav. “Um dia chegou à instituição a Maria Eduarda, com poucos dias de vida, pele e osso”, lembra o técnico. Decidido a adotá-la, ele teve de convencer a esposa a enfrentar um novo processo. “Desta vez, como ela tinha o vírus, em cinco meses estávamos com a criança registrada em nosso nome”, conta Giane. “Hoje, com 5 anos, Maria Eduarda está com a saúde ótima, sem precisar de medicação; e Giovani (com 7 anos) venceu vários campeonatos de xadrez”, orgulha-se o pai.
Casa sempre muito cheia
Com dois filhos adolescentes, o casal Aristéia e Alberto Rau decidiram começar tudo de novo. “Temos uma vida estável, bem-estruturada, e sempre desejamos uma família grande, uma casa cheia, como foi a minha”, conta o policial federal aposentado. Em agosto de 2010, enfrentaram inúmeras batalhas judiciais para adotar quatro meninas que conheceram em um abrigo. Sem obter sucesso, decidiram consultar o Cadastro Nacional de Adoção e descobriram que no Rio de Janeiro havia crianças aguardando para ser adotadas.
“Em agosto de 2011, a juíza no Rio de Janeiro nos indicou Mateus, à época com 14 anos, e Daniele, com 10, que estavam há sete anos em uma casa de apoio. Em poucos dias, eles estavam aqui em casa”, recorda Aristéia. Hoje, os dois irmãos estão perfeitamente integrados à família, que conta ainda com Lucas, de 20 anos, e André, de 15 anos.
O casal tenta agora adotar, ao menos, uma das quatro meninas que não conseguiu em 2010. “Larissa, atualmente, com 11 anos, tem um déficit intelectual, começou a andar com 2 anos e meio e, por isso, precisa de mais cuidados”, explica Aristéia. E toda a família torce pela chegada da nova irmã.
Um irmãozinho para Júlia
Adotar sempre esteve nos planos da jornalista Daniela Schwalb Fúcio, 32 anos, e do médico Alisson Fúcio, 32 anos. “Mas era algo que pensávamos para um terceiro filho”, lembra ela. O plano teve de ser adiantado depois que Daniela precisou submeter-se a uma histerectomia após o parto de sua primeira filha, Júlia, de 3 anos.
Durante a habilitação, que levou seis meses, os pais preencheram uma ficha com o perfil da criança desejada e exigiram apenas que fosse um menino de até seis meses. “Queríamos uma criança pequena para que a adaptação com a irmã fosse melhor”, explica Daniela. Com um 1 ano e 4 meses na fila, um tempo curto considerando a média de 2 a 3 anos, foram surpreendidos com a notícia de que havia um bebê de duas semanas ainda no hospital.
O casal preparou um enxoval às pressas e, mesmo sem o quartinho preparado, Pedro foi recebido de um jeito muito tranquilo. “O processo foi semelhante ao da chegada de Júlia, pois ele também era recém-nascido e foi amamentado no peito”, orgulha-se a mãe.
A pequena Júlia recebeu o irmãozinho quase como uma segunda mãe. “Ela sempre foi ciumenta, mas com ele foi diferente. Queria me ajudar a dar banho, a dar a mamadeira”, diz Daniela, que teve os filhos com dois anos de diferença, exatamente como queria.
Dois grandes presentes
Após três fertilizações in vitro mal-sucedidas feitas ao longo de 10 anos, o bancário Carlos Augusto Schiavo, 51 anos, e a dona de casa Claudete Maria Schiavo, 46 anos, decidiram entrar na fila de adoção em Curitiba. Mas quatro anos se passaram e, cansados de esperar, em 2006 decidiram adotar uma criança em outra cidade do estado: Guarapuava. O casal acabou sendo convencido pela médica a recorrer à ciência uma última vez. E o mais surpreendente ocorreu.

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