Comportamento

Rodolfo Stancki

“Enfartei com 25 anos”

Rodolfo Stancki
28/07/2013 03:04
Primeiro, a dor no peito. A tontura veio em seguida, como se a pressão tivesse despencado. Cinco horas depois, no hospital, o diagnóstico espantava médicos, familiares e amigos. Aos 25 anos, eu tive um enfarte.
Quando o coração não recebe sangue, ocorre uma pequena necrose. No meu caso, tão pequena que não foi revelada pelo cateterismo. Dois outros exames, no entanto, apontaram uma alteração nas enzimas troponina e creatina quinase (CKMB), usadas como marcadores de lesões miocárdicas, o que confirmou o diagnóstico. Tive sorte, segundo os médicos, pois uma alteração dessas pode provocar danos letais ao coração.
O susto, que ocorreu no último dia 5 de junho, parece difícil de entender. Eu estava dentro do meu peso, sem histórico de doenças cardíacas na família, não fumo e nem uso drogas. Mas sou ansioso e sedentário (ou melhor, era!). Para os médicos, o problema foi o estresse diário por conta do corre-corre da redação e do trabalho como professor universitário todas as noites.
A sobrecarga profissional e a ansiedade emocional levaram a uma rotina estressante, o que resultou num vaso espasmo em uma das minhas artérias coronárias, responsável por irrigar sangue para o coração.
Meu quadro de enfartado, assim como outras pessoas com menos de 30 anos, é algo que, infelizmente, não pode ser considerado incomum. “Na verdade, isso vem ocorrendo cada vez mais na nossa sociedade, acostumada com hábitos alimentares ruins, rotinas agitadas e pouco exercício físico”, alerta José Rocha Faria Neto, professor de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e cardiologista do Hospital Marcelino Champagnat.
Internações
E eu não sou uma exceção. De acordo com a base de dados do Sistema Único de Saúde (DataSUS), em 2010, 510 pessoas de 0 a 29 anos morreram por doenças do coração no Brasil. O número de internados, de 20 a 29 anos, foi de 1.525 – entre jovens enfartados, principalmente, por estresse, entupimento das veias por gordura e uso excessivo de drogas.
Funcionário de uma seguradora de Curitiba, Robson Oliveira tinha 29 anos, quando, em abril de 2012, enfartou. Assim como ocorreu comigo, o que veio primeiro foi a dor no peito enquanto estava no trabalho. Depois, a tontura, o formigamento nos braços e pontadas dolorosas nas costas. Rapidamente, ele foi levado por um amigo ao hospital.
Como reclamava mais da coluna do que do peito e era jovem, foi liberado depois de algumas horas. Sem melhorar, voltou a outro hospital e foi diagnosticado com um enfarte. Oliveira apresentava um quadro mais grave que o meu, pois tem diabetes, fumava uma carteira de cigarros por dia e, além disso, vivia estressado com o trabalho. “Tinha acabado de sair de um emprego porque estava me sentindo sobrecarregado”, conta.
O cateterismo revelou uma lesão, que resultou em uma angioplastia, cirurgia feita para desobstruir as artérias do coração. “Foi um susto bem grande”, diz ele, que hoje consulta o cardiologista de três em três meses.
Depois que foi liberado, Oliveira largou o cigarro, passou a pedalar, cuidar com a alimentação e frequentar academia. Com a esposa grávida de cinco meses, hoje sua prioridade é manter-se saudável para ver a filha crescer. “Preciso me cuidar, ainda mais agora”, comenta.
Cuidados
De acordo com o diretor de cirurgia cardíaca do Hospital Vita, Luiz Fernando Kubrusly, existem dois tipos de enfartes que atingem jovens com menos de 30 anos. O primeiro deles é por entupimento das artérias, provocado por um distúrbio intenso de colesterol, que antecipa um problema que deveria ocorrer aos 65 anos.
No segundo caso, em que me enquadro, a gordura é menos relevante. O problema no coração só aparece após o enfarte, provocado por estresse. “Por isso, não podemos medicar todo mundo que está sobrecarregado no trabalho. As pessoas precisam se cuidar”, alerta Kubrusly.
O estresse emocional ou físico estimula a produção de adrenalina pelo corpo, que faz com que algumas regiões recebam mais sangue para funcionar melhor. Na maioria das vezes, isso pode ser positivo, como quando precisamos estudar para uma prova na noite anterior e o bombeamento sanguíneo para o cérebro nos ajuda a processar a informação.
A continuidade dessa sobrecarga de sangue, no entanto, pode fazer com que algumas regiões do corpo não sejam irrigadas adequadamente. Quando o coração recebe menos quantidade de sangue continuadamente, há o enfarte. O exercício físico diário faz com que as pessoas gastem um pouco dessa adrenalina, o que alivia a condição de estresse.
Nova rotina
Foi o que comecei a fazer, desde que fui liberado pelo médico, pois preciso ficar vigilante. Cumpro 40 minutos diários de exercícios físicos, a maioria aeróbicos – na esteira ou na bicicleta. Além disso, encaro sessões semanais de acupuntura. “O relaxamento ajuda a equilibrar o corpo e alivia o estresse”, recomenda Kubrusly. Tudo para manter a saúde em dia. Uma pessoa de 25 anos é muito jovem para enfartar.