Comportamento

Pai não tem idade

Rodolfo Stancki
11/08/2013 03:04
O bancário Lauro Ko­­ciuba, 29 anos, tem dormido muito pouco nas últimas semanas. Isso porque, dia e noite, Ulisses reclama de fome, cólica e outros desconfortos típicos de um bebê com menos de 2 meses. Quando não está com a mãe, Yara Teles, 30, o filho se refugia no colo do pai, um marinheiro de primeira viagem no que diz respeito à paternidade. Para cuidar do menino, Kociuba precisou aprender a trocar fraldas, dar mamadeira e agasalhar. Embora não estivesse acostumado com a presença de um bebê, o cuidado veio naturalmente.
“Não existe um instinto paterno que surge no homem que se torna pai. Ele precisa construir a relação com o filho ao longo da gravidez”, explica Renate Michel, professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Com as mulheres, o processo é mais simples, pois elas sentem a criança durante nove meses e depois ainda são responsáveis por amamentá-las.
O homem precisa encontrar seu lugar na vida do filho. A expressão popular “pai é quem cria” ganha outra conotação aqui, pois a relação paternal é sempre construída pelo convívio.
Desde que descobriu a gravidez da esposa, Kociuba diz que seu foco foi cuidar dela. “Nosso papel é dar atenção a elas, que precisam de apoio. Normalmente, as mulheres vivem uma montanha russa emocional por causa dos hormônios. O pai deve passar segurança.”
A notícia da vinda do bebê chegou na vida do bancário após três anos de casamento. Perto dos 30 anos, ele se sentia preparado para ser pai. Mas precisava encontrar seu lugar durante a gestação. Por isso, montou o blog Pais Geeks (http://paisgeeks.com.br), que registrou o dia a dia da gravidez de Yara. Os textos descreviam como um sujeito que lê quadrinhos e livros de fantasia, sem preparo algum, se torna pai. “Queria registrar o momento. Mostrar como amadureci.” A página o ajudou a mergulhar no papel que iria exercer, estudando o comportamento de crianças e recebendo dicas de leitores. Hoje ele continua com as postagens, mostrando os primeiros dias do filho que, se depender do bancário, terá os mesmos gostos de seu progenitor. Há, inclusive, uma foto de Ulisses vestido de um personagem de O Senhor dos Anéis.
Preparo
Não existe uma idade certa para ser pai. Às vezes, os filhos chegam de maneira inesperada, como no caso do músico e designer Luís Costa, de 28 anos. Aos 19 anos, ele soube que a namorada Naomi Ohashi, hoje com 28, estava grávida. Na época, ele era um vocalista de uma banda de rock “quebrado” e sem estrutura. Não se sentia preparado nem maduro para a chegada de Lucas, que hoje tem 8 anos.
Para lidar com o novo papel, ele definiu que precisava de mais responsabilidade. “Arrumei um emprego logo depois de saber que ele viria e entrei na faculdade. Sinto que me tornei mais adulto”, comenta o designer, cuja atividade favorita com o filho é jogar videogame.
Expectativa
Um elemento essencial para construir a identidade de pai é o planejamento durante a gravidez. O webdesigner Rafael Coitiño, 29 anos, e a modelo Aline Arcanjo, 23, dedicaram as finanças dos últimos meses para a vinda da filha Aysha, que nasceu no dia 2 de agosto. O casal se mudou para um apartamento, arrumou um quarto para a nova moradora e um aparato gigantesco de fraldas.
Os planos aproximaram Coitiño da filha. “Esse negócio de ser pai é muito louco. Precisamos preparar tudo e acompanhar a mãe na maternidade. Cada ecografia muda o jeito como nos sentimos. Ouvir o coração bater é uma alegria muito grande”, afirma. Ele comenta que, como pai, já sente até ciúmes de Aysha. Isso porque os amigos com filhos pequenos brincam sobre um possível namoro entre as crianças. “Tenho que começar a me preocupar com esse tipo de coisa”, diz, rindo.
Novidade
Mesmo em pais experientes, a notícia de um novo filho provoca alguma ansiedade. Com dois filhos do primeiro casamento e quatro netos, o empresário Avelino Pscheidt, de 69 anos, se casou e foi pai novamente aos 62. E de um casal de gêmeos!
Anna Carolina e George Augusto, de 6 anos, foram muito esperados por ele e pela mãe, a farmacêutica Maurita Pscheidt, 46. As ecografias eram sempre motivo de surpresa, especialmente porque o pai esperava ter pelo menos uma menina.
Quando os bebês chegaram, foram recebidos como uma bênção pelo progenitor. “Aquilo era o início de uma nova vida para mim. Estava me sentindo jovem novamente. Os filhos dão muita energia para o pai”, comenta.
A idade, ainda que esconda dos filhos quando perguntam, não o atrapalha em nada. Em casa, ele dedica tempo brincando com as crianças, correndo e lhes fazendo companhia enquanto assistem a desenhos animados. Mensalmente, pai, mãe e filhos viajam para as praias de Santa Catarina, onde passam horas brincando na água. “Fazemos o que nos dá vontade. Para mim, paternidade é essa interação, que se constrói com dedicação e amor”, diz Pscheidt.

Pai não tem idade