Comportamento

Katia Michelle

Qual a idade certa para deixar os filhos irem sozinhos ao shopping?

Katia Michelle
28/11/2016 14:00
Thumbnail

Cada vez mais cedo, crianças e adolescentes querem fazer programas sozinhos. Quais os riscos e vantagens? Foto: Bigstock

Há dois anos, Luiza Gutjaht, de 14 anos, começou a pedir para a mãe, a empresária Rosane Gutjaht, para ficar sozinha com as amigas no shopping. Ainda não obteve sucesso e para os passeios, conta sempre a companhia de um adulto, mesmo que observada à distância. Já João Pedro Pacheco da Cruz, 13, já tem permissão para ir ao cinema e fazer um lanche com os colegas, logo em seguida os pais o buscam na saída do estabelecimento. Helena Biscaia, de 11, prefere a companhia dos adultos e ainda não projetou a “liberdade” do passeio sozinha com as amigas. Mas qual a idade certa para “soltar” os (prés) adolescentes, que cada vez mais insistem na companhia apenas dos amigos da mesma idade e acham uma chatice fazer um programa com adultos?
“Não tem idade certa. Quando a criança começa a pedir, ela está mostrando interesse e os pais devem avaliar a autonomia dela. A insegurança é também dos pais. Há riscos, sim, mas viver é correr riscos”, avalia a psicanalista Lindamar Luiza Vendruscolo, de Curitiba. Por ser um ambiente supostamente seguro, os shoppings são um dos primeiros locais em que as crianças e adolescentes pedem para ficar sozinhas com os amigos. Afinal, essa fase marca aquele momento em que a pessoa quer se firmar como indivíduo e fazer parte de um grupo com interesses em comum, sem interferências, é essencial para a formação da personalidade.
Mesmo sabendo que essa é uma fase de amadurecimento, a mãe de Luiza teme pela segurança e prefere não permitir que a filha circule sozinha. “Nos tempos de hoje, não existe lugar seguro”, teme a mãe. Para ela, nem mesmo os shoppings não são lugares protegidos e livres de assédios. Luiza contesta, mas respeita a decisão da mãe. “Já faz tempo que estou pedindo, mas ela não deixa. Acho a preocupação com segurança meio exagerada, mas um dia ela vai ter que se acostumar e confiar mais em mim. Eu estou crescendo”, diz a menina. Paciente, ela segue os conselhos da mãe enquanto a independência não chega.
LEIA TAMBÉM
“Acho que é preciso ter uma confiança mútua. Deixar com os amigos e ficar observando de longe é fazer com o que o adolescente `pague mico´”, brinca a publicitária Andrea Pacheco. Por isso, muito diálogo fez com ela deixasse o filho, João Pedro, ir com os colegas ao cinema, fazer um lanche e encontrar os pais da saída do shopping depois do passeio. “Eles vão amadurecendo e a gente precisa soltar. Ele já pode andar no bairro sozinho, por exemplo, e ano que vem vai começar a pegar ônibus. Não dá para superproteger”, analisa.
O diretor de teatro e cineasta Paulo Biscaia conta que a filha Helena, de 11 anos, ainda não manifestou interesse por passeio sozinhas com as amigas e acha que não é apenas uma questão de idade o fato de ele “deixar” ou não que isso aconteça. “Ela precisa mostrar maturidade para lidar sozinha com todos os fatores externos. Quando eu perceber que isso está acontecendo, acho que sair sozinha será algo natural”, enfatiza.
Pais em pânico, filhos superprotegidos
A psicanalista Lindamar Luiza Vendruscolo conta que percebe em seus atendimentos um verdadeiro pânico dos pais em relação ao crescimento dos filhos. Para ela, existem alguns fatores que superam a questão da violência e insegurança, como o próprio medo de envelhecer e perder o controle sobre as crianças. “É preciso de muito diálogo e combinados. Exemplos também são muito bons. Se você liga para os seus filhos para avisar que chegou ao trabalho ou em casa, isso vai acabar virando um hábito e eles vão acabar fazendo isso também”, salienta. Ela admite que existem riscos, mas que os pais precisam aprender a trabalhar com a insegurança e com o medo. “O medo e a angústia não podem paralisar as atitudes. Não dá para infantilizar os filhos eternamente”, diz.
Quando a questão é segurança e a idade permitida para andar desacompanhado nos shoppings, casa shopping pode determinar as regras. Procurado pela reportagem, o ParkShopping Barigui informou que não vai se manifestar sobre o assunto. O Pátio Batel, por meio da assessoria, afirmou que é um decisão dos pais e, por isso, também não vai comentar o assunto. Já o Shopping Estação informa que “zela em todos os momentos pelo bem-estar dos funcionários, lojistas e clientes de todas as idades. Por isso, os menores precisam apresentar RG se estiverem sem seus responsáveis legais para acessar o empreendimento”, informa. O Shopping Mueller não impede a entrada de menores desacompanhados. A segurança apenas preza pela segurança física e patrimonial evitando situações de aglomeração e baderna. No Shopping Crystal não há restrição de idade para circular e o Shopping Palladium  não retornou à reportagem sobre as regras aplicadas.