Comportamento

Prós e contras de ser pai dos 20 aos 50 anos

Willian Bressan
08/08/2015 15:00
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Marcus Carraro Meira, de 20 anos: muita alegria em meio a dificuldades na hora de conciliar seus deveres como pai e sua carreira profissional. Fotos: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo
É atribuída ao escritor alemão Wilhelm Busch a frase “tornar-se pai é fácil. Difícil é sê-lo”. O funcionário público Sérgio Tuoto, 53 anos, lembra como se fosse hoje o momento em que se viu diante de tal dilema. Com apenas 18 anos, ele descobriu que seria pai de Rafaella, hoje com 38 anos. “Quando ela nasceu, eu pulei a fase da adolescência, caí de braços abertos na vida adulta. Eu era um menino e não tinha crescido totalmente. Foi uma mudança muito brusca, em que eu tive que amadurecer sem fugir da raia”, relembra. Além disso, preocupava-o o fato de na época não ter uma carreira profissional para seguir ainda e garantir uma segurança econômica necessária para a filha.
O mesmo desafio é encarado hoje pelo estudante de psicologia Marcus Carraro Meira, 20 anos, que vivencia os desafios na paternidade há apenas cinco meses, com a chegada de Bernardo. “Foi um grande susto, mas depois encarei bem a situação. Sempre quis ser pai, mas a maior dificuldade é conciliar todas as atividades e todas as funções do ‘ser’: pai, marido, estudante, educador e também as noites sem dormir”, diz Meira.
Apesar das dificuldades, a psicóloga Yara Braguinia, da clínica psiquiátrica UNIICA, acredita que a paternidade precoce ajuda na transformação e evolução do homem. “Aos 20 e poucos anos, o homem está com sede de viver e lutará por seus objetivos com afinco. Dessa forma, ao tornar-se pai, ele superará adversidades e se empenhará para conquistar o melhor para seu filho”, afirma Yara. Para a coordenadora de psicologia do UniBrasil Centro Universitário, Graciela Faria, é preciso lembrar que a chegada de um filho aos 20 anos é geralmente algo inesperado, o que significa que diversas mudanças de ordem prática ocorrerão na vida do jovem. Yara lembra ainda que a escolha profissional e a maturidade são os principais desafios de ser pai nessa idade, mas que, ao mesmo tempo, o “desvio de rota” poderá servir de aprendizado e evolução.
Estabilidade
Se a palavra surpresa pode definir a paternidade aos 20 anos, estabilidade e planejamento são os elementos- chave quando se é pai na faixa dos 30. Foi assim com o educador físico Sandro Luiz Paganotto, 36 anos, após o nascimento de Elisa, há três meses. “O que mais pesou para encaixar a experiência da paternidade nessa fase da minha vida foi a questão financeira e o fato de ter hoje uma maior estabilidade e segurança. Também é complicado ser pai aos 20, porque você precisa conciliar faculdade, criança, e se privar de um período de diversão para cuidar de um filho. Aos 30, isso não acontece, porque você passou por essa fase”, avalia Paganotto.
Para a psicóloga, a condição financeira estável é o que leva muitos homens a planejar ser pai nessa faixa de idade. “Isso indica que o homem é organizado e teve um planejamento e cuidado maior com a carreira. Ele deve estar mais organizado emocionalmente e pode lidar melhor com situações difíceis”, diz Graciela Faria. “Por outro lado, nessa fase, o homem pode ainda estar mais focado no trabalho e na carreira profissional, o que reduz o tempo livre com os filhos”, completa Yara Braguinia.
Segundo tempo
A dificuldade de conciliar carreira e paternidade ocorreu com Sérgio Tuoto, quando foi pai, pela segunda vez, aos 28 anos. “Naquela época eu trabalhava muito, e a Natasha ficava muito sozinha porque a Rafaella (primogênita) morava com os avós. Ela pegou a fase de um pai bravo e rígido”, lembra.
Mas quando Tuoto decidiu reeditar a experiência da paternidade pela terceira vez, desta vez aos 46 anos, tudo foi diferente. E quem saiu ganhando foi a pequena Alexia, de 9 anos. “Ela pegou uma fase mais avô, em que estou quase me aposentando, e que sou muito relax. Não ajo da forma como agia nas mesmas situações com Rafaella e Natasha. A maturidade e o senso de responsabilidade trazem isso: quando você está preparado, você consegue estar mais presente e até se redimir, fazendo tudo diferente”, diz.
Esse é o maior ponto positivo de ser pai numa fase ainda mais madura da vida, de acordo com a psicóloga Yara Braguinia. ‘É sempre válido transformar situações passadas em aprendizados e mudanças, dessa maneira é certo que um novo filho tardiamente pode representar a oportunidade de fazer algumas coisas de forma diferente das quais foram feitas com os filhos anteriores. Cada filho, em seu tempo, é criado tal como é possível para os pais. Mas a ideia não é bem se redimir, e sim, se superar”, fala Yara. “É preciso ressaltar que os pais aprendem com a experiência e isso não é errado. Porém eles devem estar cientes de que são filhos diferentes em momentos históricos diferentes”, observa Graciela.
É preciso lembrar ainda que, independentemente da fase em que a experiência da paternidade acontece, o homem precisa encontrar um lugar para a nova criança em sua história. “Ser pai exige uma evolução em diversos aspectos. A idade pode ser uma questão meramente estatística, existem pessoas por trás disso que não são rotuláveis”, acrescenta Graciela.
Aos 20
De forma geral, o homem está com sede de viver e lutará para conquistar seus objetivos. Além disso, tem toda a energia suficiente para correr, brincar e acompanhar os pequenos. Em contraponto, pode ser que não tenha a maturidade suficiente para enfrentar os desafios da paternidade. Além disso, os relacionamentos amorosos costumam ser instáveis e incertos nessa época, o que também pode afetar a relação com os filhos. Também precisará conciliar a paternidade com o desafio de fazer escolhas seguras e trilhar um caminho profissional.
O educador físico Sandro Paganotto e sua filha, Elisa: o momento certo foi aos 36 anos.
O educador físico Sandro Paganotto e sua filha, Elisa: o momento certo foi aos 36 anos.
Aos 30
A condição financeira estável e o planejamento de carreira e vida pessoal são os fatores positivos para decidir ser pai nessa época. Por outro lado, pode ser que o homem tenha o amadurecimento profissional necessário, mas ainda não tenha atingido o mesmo grau na vida pessoal. Também pode ter pouco tempo para se dedicar ao filho, por causa do trabalho.
Aos 40
Trabalham menos e têm mais tempo livre e condições financeiras. Podem curtir mais a companhia dos filhos. Por outro lado, pode ser difícil acompanhar filhos pequenos, que exigem muita energia e movimento.
Sérgio Tuoto, 46 anos, e as três filhas (da esq. para a dir.), Rafaella, 38 anos; Alexia, 9 anos; e Natasha, 26 anos: um pai diferente em cada momento da vida dele.
Sérgio Tuoto, 46 anos, e as três filhas (da esq. para a dir.), Rafaella, 38 anos; Alexia, 9 anos; e Natasha, 26 anos: um pai diferente em cada momento da vida dele.
Aos 50
As condições físicas podem se revelar ainda mais limitantes, mas é a fase de maior disponibilidade de tempo e também emocional. A aposentadoria, no entanto, pode trazer consequências emocionais impactantes. O choque entre gerações pode representar dificuldades na relação entre pais e filhos.