Comportamento

Redação, colaborou Maria Isabel Miqueletto

Em projeto voluntário, tatuador curitibano refaz tatuagens de mulheres detentas

Redação, colaborou Maria Isabel Miqueletto
11/11/2017 12:00
Thumbnail

Projeto tem o objetivo de auxiliar na ressocialização das detentas. Foto: Visual Hunt.

Para as pessoas que passaram por um encarceramento, o momento de voltar ao convívio social e retomar as atividades cotidianas é um grande desafio — em especial, com relação ao emprego. Ter um histórico criminal já afeta na hora de procurar um trabalho e as tatuagens, feitas sob condições precárias na cadeia, podem agravar o problema, frisa Ananda Chalegre, diretora do Escritório Social do Paraná, segundo órgão de apoio aos egressos do sistema prisional implementado no Brasil.
Com o objetivo de auxiliar as mulheres que querem apagar as marcas feitas no improviso durante o período de encarceramento, o engenheiro mecatrônico e tatuador Matheus do Rosário Siqueira, mais conhecido como Matheus Sari, começou seu projeto “Semi-aberto”. A ideia consiste em refazer as tatuagens que não agradam mais as detentas.
Desde janeiro, Matheus já atendeu sete detentas. “Algumas dizem que ficaram se sentindo mais confiantes para conseguir emprego, outras que conseguem apagar o passado”, conta o tatuador.
A ideia nasceu após Matheus descobrir o projeto polonês Freedom Tattoos, também com mulheres que haviam passado por uma situação de encarceramento. “Eu já estava com vontade de começar um voluntariado e como vi que não tinha ninguém com um projeto assim aqui, decidi começar”, conta.

“A ideia era criar um projeto em que eu pudesse ajudar alguém com a tatuagem”, reforça Matheus.

Hoje, o Brasil tem a quinta maior população carcerária feminina do mundo. Em 2014 eram 37.380 mulheres presas no país. Já em 2016 eram 44.721, de acordo com dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Infopen.
Segundo Ananda, a prática é muito comum dentro das penitenciárias. Por ser ilegal, os produtos usados são improvisados e as tatuagens feitas sob condições perigosas e precárias. “Às vezes elas entram sem, mas fazem lá dentro, é como se, para fazer parte daquele grupo, elas precisassem fazer”, comenta a diretora. “Elas afiam algum objeto metálico e usam tinta de caneta fervida. Isso traz muito risco de contaminação de doenças e infecção, porque elas usam o mesmo material em muitas”, reforça Matheus.
O processo é simples: as mulheres que estão em regime semiaberto harmonizado com tornozeleira eletrônica só precisam conversar com a Ananda, diretora do Escritório Social do Paraná, e marcar horário no estúdio com o tatuador.
Matheus Sari começou no projeto no início deste ano. Foto:
Matheus Sari começou no projeto no início deste ano. Foto:

“Uma delas queria fazer uma tatuagem para lembrar dos filhos e se motivar a voltar para eles, mas ficou ruim porque fez dentro da cadeia. Recentemente eu refiz do jeito que ela gostaria que fosse desde o início. Ainda hoje ela me conta como está a vida, que está procurando um emprego e se mudou para Londrina”, lembra Matheus.

Foto:
Foto:
Matheus resolveu escolher apenas mulheres para o projeto pois notou que elas tinham mais dificuldade na readaptação à sociedade. “É mais difícil pra elas conseguirem emprego, porque os homens geralmente têm trabalho braçal, que não precisa de confiança, mas elas trabalham com limpeza ou cuidando de idosos e crianças, que exige confiabilidade“, complementa o tatuador.

* * *

LEIA TAMBÉM: