Saúde e Bem-Estar

por Mariana Ceccon, Especial para a Gazeta do Povo

Cabelo preso também é gatilho para enxaqueca

por Mariana Ceccon, Especial para a Gazeta do Povo
23/05/2019 11:00
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A alodinia cutânea é uma hipersensibilidade sensorial que causa dores, até por estímulos que não deveriam propiciar essa sensação, como cabelos presos. Foto: Bigstock

Aquele poderoso rabo de cavalo, feito logo pela manhã, pode estar contribuindo não só para aumentar a autoestima, como também para proporcionar uma dura enxaqueca. Não se salvam nem os coques, as tiaras e até singelos grampos de cabelo. Todos esses elementos são considerados gatilhos, por especialistas, para as dores de cabeça. Isso se você sofrer com uma patologia chamada alodinia cutânea.
Não é frescura. A alodinia nada mais é do que uma hipersensibilidade sensorial que causa dores, até por estímulos que não deveriam propiciar essa sensação. É o caso dos penteados e acessórios para o cabelo, que puxam os fios e comprimem os nervos trigêmeo e occipital. Entram nessa “lista negra”, capacetes e óculos, tanto os de grau, como os escuros e os específicos para natação ou mergulho.
“A alodinia é um sintoma dentro do quadro de enxaqueca, um estimulo não doloroso que é percebido como doloroso. Eu encosto em alguém e a pessoa sente dor ou até mesmo penteando o cabelo”, define o neurologista Fernando Spina Tensini.

“Se pensarmos que boa parte das mulheres que sofrem com enxaqueca experimentarão essa dor, conseguimos perceber que esse não é um fenômeno nem um pouco raro”, completa.

O número estimado de pessoas com enxaqueca, a forma mais conhecida das 200 variações de cefaleia, já chega a 15% da população brasileira, ou seja, cerca de 30 milhões de pacientes. Para o neurologista é necessário acompanhamento médico para que as dores não se tornem crônicas.  “Se a pessoa tem uma repetição no padrão de dor, como é o caso dos cabelos presos, é como se o corpo aprendesse a ter essa sensibilidade e desenvolve o que chamamos de dor crônica neuropática”, comenta.
A neurologista Célia Roesler, secretária do Departamento Científico de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia, diz que a sensibilidade no couro cabeludo é semelhante a irritação sentida pelo excesso de luz ou ruídos. “Tudo fica mais sensível para alguém que passa por episódios de enxaquecas. Alguns relatam dores em pontos da face, nas costas, sensibilidade à luz, por exemplo. Com o couro cabeludo é o mesmo”, comenta.
A especialista diz que não é todo mundo que faz rabo de cavalo que terá a dor, que atinge principalmente a parte da frente da cabeça e testa. Algumas mulheres também relatam escurecimento da visão e sensação de náusea. “Existem pessoas que possuem uma alodinia maior do que as outras, e o estresse também coopera para aumentar esse gatilho e a sensação de mal estar”, pontua.
Para evitar os episódios a saída é uma só: não prender os cabelos. A neurologista diz que para os profissionais que precisam sempre estar com as madeixas presas, vale a tentativa de afrouxar a amarração, evitar elásticos com metais ou os usados para prender notas de dinheiro, além de testar o uso de toucas.

“Quando o penteado vai preceder uma ocasião específica e ocasional, como uma apresentação de balé, por exemplo ou uma festa, vale o uso de um analgésico preventivo, uma hora antes. É o que recomendamos para pessoas que tem enxaqueca durante uma reunião mais estressante, por exemplo”, recomenda Roesler.

“Mas precisa ser uma medicação orientada pelo médico e não pode passar de uma ou duas vezes na semana. O uso exacerbado de analgésicos pode transformar a dor de cabeça em algo crônico, muito mais difícil de tratar, ainda mais quando está associado a relaxantes musculares e anti-inflamatórios.”, recomenda.
No mês de combate a cefaleia, a neurologista deixa claro que quando a pessoa tem mais de três dores de cabeça fortes em um período de 30 dias, durante três meses seguidos, é necessário procurar um médico e avaliar tratamentos que vão desde medicação e psicoterapia, até mudanças de hábitos de vida.
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