Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Depois de tomar antibiótico, mulher ficou com a “língua peluda”; condição não é incomum

Amanda Milléo
13/09/2018 07:00
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A condição língua negra pilosa é decorrente da falta de higienização adequada do músculo, associada ao uso de medicamentos específicos, tabagismo e alcoolismo (Foto: Wikimedia commons)

Depois de sofrer um acidente de trânsito,  uma  britânica, de 55 anos, recebeu o antibiótico como parte do tratamento e, tão logo começou o uso, relatou ter sentido náuseas e um gosto ruim na boca. Quando percebeu, a língua estava com a aparência escura e “peluda”. A condição, chamada tecnicamente de língua pilosa ou saburrosa, não é tão incomum, mas está diretamente associada à limpeza bucal — tanto na falta de higiene quanto no exagero dos cuidados.
Mulher britânica percebeu os sintomas depois de fazer uso de um antibiótico específico, que associado a má higiene bucal, levou ao surgimento dos "pelos". Acima, o antes e depois do tratamento (Foto: Reprodução New England Journal of Medicine)
Mulher britânica percebeu os sintomas depois de fazer uso de um antibiótico específico, que associado a má higiene bucal, levou ao surgimento dos "pelos". Acima, o antes e depois do tratamento (Foto: Reprodução New England Journal of Medicine)
Quando a língua fica“peluda”  significa que a camada de ceratina presente nas papilas da parte dorsal do músculo cresceu e acabou se pigmentando, devido a presença de bactérias e sujeira, como que aconteceu no caso da mulher relatado na revista científica The New England Journal of Medicine.
Não limpar a língua faz com que a sujeira, decorrente das comidas, se acumule, o que gera diferentes colorações. As mais comuns são as línguas amareladas e brancas, mas há quem apresente uma coloração mais acastanhada, aumentando a impressão de que surgem “pelos” na língua. Neste caso, a condição é conhecida por “língua negra pilosa”.
Além da falta de uma escovação adequada da língua, fumantes e quem faz uso de antibióticos específicos, como a monociclina, podem desenvolver essa tonalidade mais escura, e foi o caso relatado na revista científica.
Dos sintomas mais relatados pelos pacientes, além da sensação ruim de coceira ou cócegas na boca, está a dificuldade de deglutição. A condição é benigna e desaparece em poucos dias, desde que a pessoa melhore as habilidades de higiene bucal.
“É mais comum entre homens, especialmente os fumantes. No tratamento, não é usada medicação, mas um aprimoramento na escovação e a eliminação do agente causador, seja o cigarro ou álcool, que também pode favorecer o surgimento. Hoje tem raspadores de língua, que ajudam no processo, mas primeiro é preciso ir ao dentista para ter um diagnóstico”, explica Fernando Henrique Westphalen, mestre doutor em Diagnóstico Bucal, professor do curso de Odontologia da UFPR e membro da Associação Brasileira de Odontologia, seção Paraná (ABO-PR).

Limpeza demais também aumenta risco da língua “peluda”

Quem exagera no uso de enxaguantes bucais — mais de cinco vezes ao dia –, mas não faz uma limpeza adequada com escovação e uso do fio dental, também pode ter a condição desenvolvida.
“Se você usar só o enxaguante bucal, é como se você estivesse levando a sujeira para debaixo do tapete. Aparentemente está limpo, mas não está. É difícil fazer o paciente entender que precisa passar fio dental todos os dias, e escovar a língua é ainda mais. O certo é ensinar e condicionar o hábito desde a infância”, explica Bruna Araújo dos Santos, especialista em implantodontia e diretora técnica da Oral Unic Implantes.
Para evitar a condição, portanto, reforce a limpeza bucal (escovação + fio dental + enxaguante) e não deixe a higiene restrita a apenas uma das etapas. Evite o uso de tabaco e bebidas alcoólicas e, sempre que for fazer uso de medicamentos antibióticos, especialmente a monociclina, reforce os cuidados com a boca.

“Os sinais [da língua “peluda”] tendem a aparecer no dorso da língua. Se surgir qualquer alteração na borda, esse é um dos locais onde o câncer bucal mais se manifesta. Procure um dentista”, reforça Fernando Henrique Westphalen, especialista. 

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