Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo*

Paraná oferece tratamentos para câncer acima do esperado, aponta estudo

Amanda Milléo*
29/06/2017 08:00
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O que se sabe até agora sobre o que causaria ou não câncer? Médicos relacionam alguns fatores. Foto: Bigstock

Centros oncológicos e hospitais do câncer no Paraná oferecem tratamentos medicamentosos no Sistema Único de Saúde (SUS) acima ou dentro do esperado, segundo estudo divulgado no fim de junho pelo Instituto Oncoguia. A entidade analisou 34 centros oncológicos de diferentes estados no Brasil, entre eles o Paraná, para verificar quais são os protocolos e diretrizes que direcionam os tratamentos oncológicos, principalmente os medicamentos usados, e compará-los com os protocolos do Ministério da Saúde.
Como resultado, o estudo percebeu uma desigualdade considerada grande entre os tratamentos ofertados para os mesmos tipos de cânceres. As diferenças foram encontradas entre os estados, mas também entre hospitais de uma mesma cidade, como foi o caso de São Paulo e Recife. “Tinham muitos hospitais que dão aquilo que é preconizado pelo Ministério ou acima, mas tinham também hospitais cujos protocolos estavam abaixo do que é preconizado. A desigualdade é muito grande e, por isso, o título do estudo é muito certo, o ‘Meu SUS é diferente do teu SUS'”, explica Tiago Farina Matos, diretor jurídico do Instituto Oncoguia e um dos autores da pesquisa.
“Todo mundo sempre desconfiou dessa desigualdade, mas agora temos dados que mostram isso. Precisamos estimular que essas informações dos tratamentos sejam mais transparentes. Não podemos aceitar que, se der sorte, o paciente é encaminhado a um hospital que tenha um tratamento melhor ou no azar seja enviado a um hospital que não atinge nem o que é preconizado pelo Ministério da Saúde”, reforça Matos.
Foram analisados os protocolos e diretrizes – uma espécie de manual que os médicos recebem das instituições onde trabalham para seguirem nos tratamentos oncológicos – de cinco tipos diferentes de câncer: mama, pulmão, colorretal, próstata e colo de útero. Os dados foram divulgados durante o 7º Fórum Nacional de Políticas de Saúde em Oncologia do Instituto Oncoguia, realizado nos dias 27 e 28 de junho, em São Paulo.
Centros oncológicos no Paraná oferecem tratamentos mais completos
No Paraná, dois hospitais ou centros oncológicos possuem protocolos e diretrizes próprios e, para os cânceres de mama e pulmão. No caso do primeiro, os protocolos superam as diretrizes do Ministério da Saúde. Para o câncer de pulmão, eles estão adequados à elas.
Os dados dos demais cânceres (próstata, colo do útero e colorretal) serão divulgados no dia 30 de junho em um artigo publicado na revista científica da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, a Brazilian Journal of Oncology. Os nomes das instituições não foram divulgados pelos autores da pesquisa para evitar pânico entre os pacientes.
“É preciso lembrar que um tratamento [oncológico] adequado não é só ter drogas. Tratamento adequado inclui nutricionista, psicóloga, assistência radioterápica, assistência cirúrgica, entre outros. São vários fatores que influenciam e, portanto, não é para os pacientes tentarem migrar para hospitais que oferecem mais drogas”, diz Rafael Kaliks, oncologista clínico do hospital Israelita Albert Einstein e diretor científico do Instituto Oncoguia, durante o Fórum da instituição.
Da mesma forma, Kaliks reforça que ter uma diretriz ou um protocolo no hospital não garante que essa mesma diretriz seja cumprida. “Não estou falando que centros com diretrizes são melhores que os que não têm. Às vezes o médico faz menos do que diz a diretriz e não há um controle sobre isso. Também, hospitais que não dispõem de diretrizes não significa que o tratamento seja insuficiente”, explica.
No entanto, ter um protocolo e ele, mesmo assim, estar abaixo daquilo que é preconizado pelo Ministério da Saúde para aquela determinada doença é, do ponto de vista do paciente, mas também das entidades médicas, inaceitável. “É inaceitável que exista um subtratamento em relação ao que o Ministério propõe, que pode já ser baixo”, reforça o médico oncologista.
*A jornalista viajou a São Paulo a convite do Instituto Oncoguia. 
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