Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo*

Por que o diabético deve ter medo de ficar cego?

Amanda Milléo*
16/11/2016 14:00
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(Foto: VisualHunt)

Quando o médico chama a atenção do diabético porque o diabete está descompensado, ele não está preocupado apenas com os níveis de glicose e insulina percorrendo a corrente sanguínea do paciente, mas principalmente com as consequências que o descontrole da doença traz a outras partes do corpo, começando pela visão.
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O aumento do açúcar no sangue e a falta de controle da doença levam a alterações nos vasos sanguíneos da parte posterior do olho, chamada de retina, e da porção central, conhecida por mácula. Assim surgem a retinopatia diabética e o edema macular diabético que, se não forem tratados, podem levar à cegueira.
Embora sejam duas das principais complicações da doença, 54% dos diabéticos curitibanos desconhecem as condições, conforme pesquisa da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo, realizada em parceria com a farmacêutica Bayer. Divulgada no início de novembro, a pesquisa foi realizada com quatro mil brasileiros de oito capitais, incluindo Curitiba, sobre as percepções que os pacientes e não pacientes tinham sobre as complicações do diabete.
“Cerca de 63% dos brasileiros sabiam dos problemas, mas acham que eram complicações remotas ou muito distantes, enquanto que 25% ficaram devastados com a possibilidade de desenvolver essas complicações. Tivemos ainda 9% das pessoas que, vivendo em outro mundo talvez, não estavam preocupados“, disse Luiz Turatti, presidente atual da Sociedade Brasileira de Diabetes, durante a apresentação da pesquisa em São Paulo aos jornalistas.

Quem está em risco?

O lado positivo dessas complicações é que elas podem ser prevenidas – basta manter o controle da doença e ir regularmente ao médico oftalmologista. Com um exame de fundo de olho, o médico consegue identificar a elevação da retina, que indicaria o edema. Para isso, porém, há dois problemas no caminho.
O primeiro é que nem sempre o médico endocrinologista – geralmente quem primeiro trata o diabete do paciente – indica uma ida ao oftalmologista. De acordo com dados da pesquisa apresentada, 48% dos entrevistados diabéticos ou que tinham familiares diabéticos de Curitiba afirmaram que não receberam de seus endocrinologistas o pedido do exame de fundo de olho e 8% nunca foram a uma consulta com oftalmologista.
Como segundo problema, 56% das pessoas recebem o diagnóstico do diabete tardiamente – quando a doença está descompensada, o que eleva as chances de um problema ocular e de uma cegueira. Sem um tratamento, os diabéticos podem perder mais de duas linhas de visão em até dois anos.
“A prevalência dessas condições oculares em quem tem diabete tipo 1 se deve porque o controle do tipo 1 é mais difícil, porque precisa da insulina. Mas as doenças oculares dependem também do tempo que a pessoa passou com a doença descontrolada”, explica Sérgio Pimentel, chefe do serviço de retina do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP).

6% é a taxa de prevalência do edema macular diabético em geral, enquanto que pacientes com mais de 10 anos de doença tem uma prevalência de 14% a 24%. O edema independe de idade, mas varia conforme o tempo de descompensação da doença.

Edema macular diabético: a elevação da glicemia no sangue altera os vasos sanguíneos, inclusive dos olhos, e gera um vazamento de fluído dentro da mácula. O vazamento gera manchas que atrapalham a nitidez, foco, distorcem as imagens, levam a fotofobia, redução do contraste e visão das cores, entre outros sintomas.

Formas de tratar

Diagnosticado o edema macular diabético, há dois tratamentos que podem ser usados de forma complementar, que é o laser e as injeções de medicamentos dentro do olho, ou intravítrea. Para casos mais graves, existe a indicação de cirurgia.
No caso do laser, o paciente ganha um pouco de visão e pode até estabilizar a perda que teve até o momento. Com as injeções de medicamentos corticoides e antiangiogênicos, há a chance de ganhar mais visão e até reverter a perda visual do paciente.
“A injeção é indolor e age entre um e dois meses. O problema com os corticoides é que eles aumentam a pressão ocular e induz a formação de catarata. Já os antiangiogênicos ganham e sustentam a visão do paciente em anos e não precisa ser injetado sempre. A média é de, no primeiro ano, de oito a 10 injeções, e no segundo ano, duas a três aplicações, se for tratado intensamente. A partir do quarto e quinto ano, pode não ser preciso nenhuma injeção”, diz Sérgio Pimentel, chefe do serviço de retina do HC/FMUSP.
Um dos últimos medicamentos antiangiogênicos lançados no mercado foi o aflibercepte, cujo nome comercial é Eylia, aprovado pela Anvisa em setembro e produzido pela Bayer. Além do edema macular diabético, este medicamento recebeu a aprovação para ser usado no tratamento de outras quatro doenças vasculares da retina, como degeneração macular relacionada à idade (DMRI) forma úmida e oclusão venosa da retina nas suas duas formas de apresentação – oclusão da veia central da retina e oclusão de ramo da veia retiniana. O medicamento não está disponível pelo Sistema Público de Saúde (SUS), apenas na rede privada.
*A repórter viajou a São Paulo a convite da farmacêutica Bayer.