Saúde e Bem-Estar

Jane E. Brody, New York Times

Médicos avaliam tratamentos e remédios alternativos contra o câncer

Jane E. Brody, New York Times
21/10/2018 17:00
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Ainda é cedo para saber se a descoberta realmente irá mudar o rumo dos tratamentos. Foto: Bigstock

Um diagnóstico de câncer, mesmo em estágio inicial e com grandes possibilidades de cura, pode deixar algumas pessoas com a sensação de que, de repente, perderam o controle do futuro e precisam fazer o que puderem para recuperá-lo.
Elas buscam orientação na internet e com amigos e conhecidos, gente que não perde tempo em contar casos de curas milagrosas com remédios alternativos – aqueles que garantem poupar os pacientes dos desafios dos tratamentos conhecidos, como cirurgias, rádio e quimioterapia.
Segundo o grupo Respostas Integrativas sobre o Câncer, 83% dos doentes escolhem usar uma ou mais formas de medicina alternativa, desde acupuntura e ervas até vitaminas e ioga, na maioria das vezes em conjunto com terapias cuja eficácia foi comprovada clinicamente.
No entanto, um número pequeno, mas significativo de pacientes rejeita os tratamentos oferecidos por oncologistas tradicionais e, em vez disso, busca remédios alternativos que não possuem suporte de pesquisas científicas válidas. Suas razões vão desde o desejo de se sentirem mais fortes tomando as próprias decisões sobre o tratamento até o evitar dos efeitos colaterais tóxicos, com a escolha de remédios que consideram inofensivos.
Mas será que esses remédios são mesmo inócuos? Quando os medicamentos que se provam benéficos são substituídos por outros, apoiados apenas no desejo de um resultado, em casos isolados ou em má ciência (se é que há alguma ciência por trás deles), o resultado pode ser uma sentença de morte.

Pesquisas

Em um estudo recente da Faculdade de Medicina de Yale envolvendo 281 pacientes com cânceres com potencial de cura de mama, pulmão, cólon, reto ou próstata, sem metástase, o uso de medicinas alternativas em vez de tratamentos convencionais contra o câncer resultou em uma taxa de mortalidade total 2,5 vezes mais alta do que a experimentada por pacientes que receberam a terapia padrão.
Entre as mulheres com câncer de mama, a escolha de remédios alternativos resultou em um aumento de quase seis vezes na chance de morte durante um período médio de acompanhamento de 5,5 anos. Para pacientes com câncer de cólon ou reto, a taxa de mortalidade foi 4,5 vezes mais alta; para os com câncer no pulmão, duas vezes maior.
Apenas para os homens com câncer de próstata não houve diferença durante o período de acompanhamento – resultado que, segundo os pesquisadores, possivelmente reflete o crescimento lento típico desse mal. As descobertas foram publicadas no Journal of the National Cancer Institute.
A equipe de pesquisa, liderada pelo radiologista terapêutico Skyler B. Johnson, enfatizou um ponto muito importante: a medicina alternativa, que os autores definem como “uma terapia não comprovada aplicada em substituição ao tratamento convencional”, não é a mesma coisa do que as complementares ou integrativas, usadas como acréscimo ou complemento do método padrão.

Muitas vezes, quando a “medicina alternativa” é usada em vez de tratamentos médicos convencionais, ela atrasa o uso de medicamentos que possuem eficiência reconhecida e dá tempo para um câncer que seria curável se tornar letal.

Em um relatório relacionado que saiu em JAMA Oncology, a equipe de Johnson escreveu que as taxas de mortalidade mais altas associadas aos tratamentos alternativos usados pelos pacientes em seu estudo provavelmente foram “mediadas pela recusa do tratamento convencional do câncer”.

Medidas suplementares

A medicina complementar, por outro lado, possui riscos menores, já que é usada com os remédios padrão, em geral para diminuir os efeitos colaterais e aumentar a sensação de bem-estar. Se escolhidas adequadamente, as terapias adicionais não devem interferir com os benefícios dos tratamentos estabelecidos.
A medicina integrativa combina o uso de remédios comprovados clinicamente com uma ou mais práticas complementares e alternativas reconhecidamente seguras e efetivas.
Os pacientes também precisam levar as prescrições médicas com as doses dos medicamentos usados. Foto: Unsplash.
Os pacientes também precisam levar as prescrições médicas com as doses dos medicamentos usados. Foto: Unsplash.
No entanto, nem todo tratamento alternativo aos quais os pacientes recorrem é seguro. Alguns podem interferir com a eficácia dos remédios estabelecidos ou causar reações adversas quando combinados com eles. As chances de isso acontecer são maiores quando os pacientes fazem uso deles sem conversar com os médicos sobre as interações.
A Sociedade Americana de Câncer reconhece que “muitos médicos podem não saber sobre o uso e o potencial de riscos e benefícios desses tratamentos não convencionais”. Ainda assim, a organização pede aos pacientes que conversem com seus médicos quando estiverem pensando em usar um medicamento complementar para ter certeza que ele não vai interferir com o tratamento regular.
Eles pedem aos pacientes que façam uma lista de todos os suplementos que estão tomando ou planejam tomar e mostrem aos profissionais, que podem inclusive ajudar a identificar quais produtos são fraudulentos ou perigosos.
Segundo a sociedade, é provável que haja métodos convencionais para tratar efeitos colaterais ou sintomas associados com o câncer e seus tratamentos estabelecidos, e os médicos podem recomendá-los.
O mais importante, segundo a organização, é não atrasar nem evitar um tratamento regular sem avisar o profissional de saúde. Se estiver pensando em parar ou desistir do tratamento convencional tem que falar com seu médico sobre o assunto.
De qualquer maneira, a sociedade afirma que as decisões sobre o tratamento, em última instância, são sempre do paciente. “Mesmo que você esteja desistindo do único tratamento comprovado para seu câncer, a escolha ainda é sua”, esclarece a assessoria da instituição.

10 tratamentos que aliviam

Se for usar um método alternativo como complemento, não um substituto para o tratamento convencional, a Clínica Mayo sugere dez opções seguras e que podem ajudar a lidar com sinais e sintomas causados pelo câncer e por seus tratamentos, como ansiedade, cansaço, náusea e vômitos, dores, dificuldade para dormir e estresse.
– A acupuntura pode aliviar náuseas e dores.
– A aromaterapia também  ajuda a aliviar as náuseas, as dores e o estresse, mas os pacientes não devem fazer uso de grandes quantidades de óleo de lavanda e de melaleuca na pele.
– Exercícios físicos podem combater o cansaço e o estresse e melhorar a qualidade do sono.
– A hipnose pode controlar a dor e o estresse.
– As massagens podem aliviar a dor, a ansiedade, a fadiga e o estresse, embora não sejam totalmente seguras para pacientes com contagem sanguínea baixa.
– A meditação pode diminuir a ansiedade e o estresse.
– Já foi provado que a terapia musical alivia a dor e controla as náuseas e o vômito.
– Técnicas de relaxamento, como a progressiva dos músculos, podem melhorar o sono e diminuir a ansiedade e o cansaço.
– O tai chi diminui o estresse e melhora a força e o equilíbrio.
– A ioga também alivia o estresse e o cansaço e melhora a qualidade do sono.
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