Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Atleta amador também treina pesado

Amanda Milléo
17/07/2014 03:18
“Eu não disse que seria fácil. Disse que valeria a pena”. “Olhe o quanto você fez e pense aonde poderá chegar”. “A dor é a fraqueza saindo do corpo”. Os slogans estão em redes sociais, nas paredes das academias e nas bocas dos personal trainers, instigando a vontade de diminuir marcas e subir em pódios. A superação dos limites é o motivo que leva cada vez mais atletas amadores a competirem em maratonas, travessias e triathlons, o que acarreta mudanças na rotina, físicas e psicológicas.
Porém, deixar o amadorismo para enfrentar competições e treinos mais pesados exige preparação. Exames médicos que avaliam o condicionamento físico e a melhor modalidade indicada para cada pessoa, bem como iniciar esta subida de intensidade aos poucos são algumas orientações de especialistas. “Há pessoas com algum tipo de predisposição que, quando submetidas a um treinamento intensivo, prolongado, aumentam a probabilidade de desenvolver uma doença. Temos hoje alguns exames que conseguem identificar doenças silenciosas, que podem se manifestar pelo exercício, como a doença aterosclerótica, que leva ao enfarte”, explica o cardiologista e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, regional do Paraná (SBME-PR), Marcelo Bichels Leitão.
Corredores são conhecidos pelas lesões nos joelhos, que não são decorrentes propriamente do vigor do exercício. Da mesma forma que a doença aterosclerótica, a lesão manifesta-se nas pessoas que possuem uma predisposição e o uso do joelho contribui para isso. “É preciso começar com uma carga de exercícios considerada baixa pelo próprio indivíduo”, afirma o pesquisador de treinamento desportivo e controle de carga de treino e diretor da faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Maurício Barra Filho. Se a ideia é correr uma maratona de 10km, o treinamento deve começar leve, com caminhadas. “A quantidade de exercícios deve ser aumentada gradativamente até o organismo se adaptar e, nesse meio tempo, buscar objetivos intermediários, como correr uma prova de 5km”, completa Barra Filho.
Objetivos na medida
É comum entre as pessoas que buscam as competições esportivas amadoras se apegarem a exemplos, de acordo com o coordenador do laboratório de psicologia do esporte e professor de Ciência do Esporte da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Varley Teoldo da Costa. “Tem o senhor idoso que correu a maratona não sei quantas vezes, a outra mulher que é feliz, bem sucedida, bem resolvida e a pessoa pensa: por que não eu? Por que não tentar?”, afirma Costa. No entanto, cada um deve se impor um desafio realista, nem muito exagerado, nem muito baixo, para que não ocorra uma desmotivação, segundo ele. “Cada desafio cumprido acaba encorajando e transfere a sensação de ‘eu consigo fazer’ para outros setores, contribuindo para ser mais feliz. Todo exercício que tem uma meta é saudável”, explica.
Previna-se
Confira as lesões mais comuns de acordo com a modalidade escolhida e como tentar evitá-las:
Lesões mais comuns:
• Corrida: fratura do calcâneo; estiramento e contratura nas musculaturas dos membros inferiores; inflamações nos tendões, especialmente a patelar e tibial posterior; inflamação na tíbia (conhecido também por canelite);
• Ciclismo: estiramento e contratura nas musculaturas dos membros inferiores; tendinite no joelho e lombalgia (dores nas costas);
• Natação: lesões nos ombros, desde inflamação até uma frouxidão ligamentar;
• Musculação: tendinites; contraturas; estiramentos; entorses; hérnia de disco; bursite; rupturas parcial ou total dos músculos ou tendões.
Princípios para evitá-las:
• Individualidade biológica: cada um tem limites próprios e, ao se conhecer, aprenderá a respeitar os limites físicos. Treinos com menos de 24h de descanso devem ser dosados e não servem a todos.
• Continuidade: é muito importante que o treino não seja interrompido, especialmente depois de o aluno ultrapassar a adaptação. Caso ocorra essa parada, ao voltar, precisará reduzir as cargas e nunca retornar ao exato mesmo ponto em que parou.
• Interdependência volume/intensidade: quanto mais intenso for o treino, mais rápido correr ou mais carga usar na musculação, o tempo terá de ser menor. Se está acostumado a correr 30 minutos na velocidade de 10km/h e passar a correr 14km/h, não poderá manter o mesmo tempo no início. É preciso reduzir para 10, 15 minutos, até que o corpo se adapte.
• Sobrecarga: a evolução gradativa das cargas é importante para que a intensidade não mude de uma hora para a outra, sem que a pessoa esteja preparada.
• Necessidade: se a competição é corrida, o treino principal será a corrida, com treinos auxiliares neuromusculares, conhecidos por musculação. Esse é o treinamento de base, visando o fortalecimento para se atingir melhor desempenho.
Fonte: Ricardo Zanuto, nutricionista esportivo doutor em Fisiologia Humana e Biofísica; Rodrigo Telles, educador físico especialista em Fisiologia do Exercício e personal trainer da Hype Fitness.