Simples brincadeiras, como procurar um amigo escondido, podem adiar problemas oftalmológicos em crianças. Como filhos de pais míopes, que enxergam mal de longe, tendem a desenvolver a doença uma hora ou outra, fortalecer a musculatura dos olhos pode protelar o surgimento dessa e de outras doenças.
Crianças que passam mais tempo fora de casa, com atividades ao ar livre e que exigem uma visão a distância, não desenvolvem a miopia tão rapidamente quanto as que ficam dentro de casa, explica a oftalmologista presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), Marcia Tartarella. A constatação foi feita em uma pesquisa desenvolvida na Austrália e, segundo Marcia, há vários outros estudos nesse sentido. Porém, não há nada de concreto que faça com que a doença com forte caráter hereditário evolua mais lentamente ou simplesmente estacione.
“A musculatura ocular fica mais direcionada a uma visão mais longe do que de perto quando a criança está ao ar livre, o que ajuda no fortalecimento muscular”, afirma. Outra sugestão aos pais é manter a criança distante do tablet e smartphone o máximo que puder. “São muitas as atividades que elas fazem e que forçam a musculatura dos olhos para perto. Acredita-se até que, em alguns casos, as crianças podem desenvolver mais estrabismo devido a musculatura forçada”, diz ela.
Mais importante que adiar as doenças, o professor doutor de oftalmologia da Faculdade de Medicina de Botucatu pela Universidade Estadual Paulista, Antônio Carlos Lottelli Rodrigues alerta para a importância do diagnóstico precoce. “O desenvolvimento da visão — a conexão entre o olho e o cérebro — se completa aos seis anos. Se após esse período de maturidade da visão o olho tiver uma conexão falha, nem mesmo o uso de óculos poderá corrigir perfeitamente”, explica.
Manter uma luz acesa no quarto durante toda a noite pode também causar prejuízos oftalmológicos: alguns estudos têm revelado que qualquer luz, mesmo a de um relógio digital, pode comprometer as estruturas oculares e forçar o aparecimento da miopia, segundo a presidente da SBOP. “Se a criança passa a noite com a luz acesa, o olho entende que a noite seria dia e faz o olho crescer. A miopia é um olho maior, então é importante evitar que a criança durma a noite toda com a luz acesa”, diz Marcia.
Ele usa óculos
O olho lacrimejando do Gustavo Pancera Nasimoto aos dois anos chamou a atenção da mãe, Alessandra Pancera. A advogada levou o filho a diversos médicos que diagnosticaram a hipermetropia. Apesar de comum nas crianças, o grau de hipermetropia do menino era muito diferente entre os olhos, o que exigiu o uso dos óculos. “Os médicos falaram que poderia melhorar e até reverter, mas era preciso começar logo e hoje ele tem três anos e está acostumado com os óculos”, conta.
