Comportamento

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo

Juntos há 60 anos e celebrando o amor. É possível?

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo
08/07/2016 15:15
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Juvenal Mello, 89 anos, e Edna Nascimento, 84 anos: muito cuidado um com o outro. Fotos: Camila Lima/Divulgação

O relacionamento de Juvenal Rodrigues Mello, de 89 anos, e de Edna Soares do Nascimento, de 84, já atravessa quase sete décadas. Juntos há 69 anos, o casal que assistiu junto a muitos dos grandes eventos e evoluções da vida contemporânea garante que o amor só aumentou. “As discussões são naturais, mas raramente brigamos. Estamos sempre juntos e cuidando um do outro com muito carinho”, conta Juvenal.
Afinal, qual o segredo para manter uma vida a dois quando tantos casais sucumbem diante da efemeridade dos sentimentos e das circunstâncias? Segundo Flávia de Paula Soares, psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em cada fase da vida a capacidade de amar ganha novas tonalidades afetivas, ainda que sejam marcadas por superações diferentes. “Homens e mulheres na meia idade tendem a experimentar crises pessoais que levam à revisão da vida e, por consequência, do relacionamento. Os que sobrevivem ao processo devem buscar uma maneira de ressignificar sua vida a dois”, diz.
Na maturidade, segundo ela, é preciso um confrontamento individual e o casal pode decidir renovar ou não a relação. Assim, não existe receita única, afirma Flávia. “São processos trilhados a partir de circunstâncias pessoais da atualidade, condições de vida anteriores e história do casal. Aqui entram os níveis de afinidade, estabilidade e intimidade, que podem ser os elos que mantêm a base do laço conjugal”, avalia a psicóloga.
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“A capacidade de manutenção de interesses comuns, a leveza, o respeito à individualidade e a realização de pequenas concessões também são fatores que ajudam a determinar o sucesso de uma relação. A vitalidade emocional, a confiança e o companheirismo são traços marcantes comumente relatados pelos idosos”, completa a psicanalista Salete Clivati.
Que as pessoas mais velhas têm muito a ensinar, não há dúvidas. Mas o caminho inverso também é válido quando o exemplo vier de jovens casais que, juntos, vêm resistindo às intempéries da vida moderna. “O idoso precisa ter um pouco da coragem e a irreverência dos jovens”, avalia a psicóloga Flávia de Paula Soares. Os mais novos, por sua vez, além de se inspirar na delicadeza dos relacionamentos maduros, devem começar a se preparar para  o envelhecimento, ou seja, praticar a “envelhescência” ainda na juventude.
SAIBA MAIS
A psicóloga Flávia de Paula Soares e a psicanalista Salete Clivati dão dicas para manter a chama da relação:
  • Evite o empobrecimento ou saída do campo social em função da perda dos amigos da mesma geração.
  • Mantenha laços de amizade e com familiares. Idosos que se relacionam com amigos e têm o apoio social de familiares e da comunidade são psicologicamente mais saudáveis do que os que estão isolados.
  • Estabeleça uma relação saudável com o próprio corpo, sabendo lidar com os declínios naturais.
  • Não deixe de investir na temática sexual. Relatos de idosos e literatura médica indicam que a sexualidade na velhice é mais satisfatória do que na vida adulta, especialmente por conta da qualidade (e não quantidade) das relações.
  • Tenha coragem para permitir-se viver o amor. Esta atitude é característica de sanidade mental.
  • Jamais pense que tudo acabou a partir da diminuição da função de cuidados com os filhos. Com o aumento da longevidade, estima-se que seja possível viver entre 20 e 30 anos na velhice.