Comportamento

Dayane Saleh, especial para a Gazeta do Povo

Manias e tiques, você já teve algum?

Dayane Saleh, especial para a Gazeta do Povo
27/10/2016 20:30
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Foto: Bigstock

Ver a tampa da privada levantada te dá aquela pontinha de ódio. Quando você tem que apresentar um trabalho na frente dos outros finaliza sempre com a mesmas expressões. Prefere comer toda a batatinha antes do sanduíche e fica irritado se alguém mexe nas suas coisas e deixa elas, mesmo que arrumadas, fora do lugar certo. Quando vai reclamar, pisca um olho mais que o outro e passa a mão no nariz com frequência sem ter rinite. Manias como estas revelam que você, como muitas outras pessoas, podem ter TOC (Transtorno Obsessivo-compulsivo).
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Provavelmente você achava que, para ter TOC era preciso estar em eterna angústia e privação, mas não é bem assim. É o que explica a psicóloga Julia Schlemm. “A mania e o tique são denominações leigas para a doença”, mas ela salienta: “Claro que existem níveis, associados a quanto a pessoa sofre devido a sua mania”, explica a profissional que segue a linha da psicanálise. Mais comum do que se imagina, o TOC está presente na vida de milhares de pessoas e é sintoma de algo maior. “A irritação por uma coisa pequena tem fundamentação em um problema mais profundo”, diz.

Como acontece?

Schlemm explica que a mania e o tique são termos populares para gestos, atividades repetitivas, cacoetes ou vícios involuntários que passam despercebidos por quem os realiza. “O tique, a mania e o TOC tratam da mesma questão. Os tiques e manias são eufemismos para as compulsões, que agem como respostas aos pensamentos obsessivos”, conta. A psicóloga detalha que, segundo a psicanálise – método terapêutico criado por Freud – essas obsessões são alguns de nossos desejos inconscientes, que precisam ser reprimidos por serem negativos, como por exemplo querer o mal para alguém.
É assim que a pessoa acaba impondo algumas restrições a si para, como uma forma de evitar que os pensamentos apareçam. “Como ‘preciso andar do lado esquerdo da rua para evitar que algo de ruim aconteça àquela pessoa, à qual inconscientemente desejei mal, fique bem’. Ou ainda ‘tenho que conferir cinco vezes se a porta está fechada‘. Entre outras ações”, explica Schlemm que aponta que, dependendo do grau de sofrimento da pessoa, é preciso acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.

Identificação e outros fatores

O estresse pode contribuir para o aparecimento ou piora de um comportamento repetitivo, pois nestes momentos há um excesso de energia que toma conta do psicológico. “Pode ser que esses desejos inconscientes negativos retornem ou se intensifiquem. Aí a mente reage criando pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos para se proteger”, explica a psicóloga que aponta que não existe um momento “certo” para pedir ajuda.
Ela também conta que é possível ser “contaminado” por um tique de alguém ao se identificar com a pessoa. “Por desejar, por exemplo, ocupar o mesmo lugar de alguém ou de alguma forma ser este alguém se pode copiar um tique”, esclarece a psicóloga.
“Algumas pessoas chegam a paralisar sua vida, não conseguindo tomar decisões ou sair de casa. O quanto antes se procurar ajuda é melhor. Assim, situações complicadas e sofridas podem ser evitadas”, defende Schlemm, que salienta que todos têm desejos negativos, mas que o que diferencia é a maneira que cada um lida com isso, fazendo com que os sintomas apareçam ou não.