Comportamento

Júlia Ramos, especial para Gazeta do Povo

Menstruação vazada, assédio e dor; a difícil vida de quem trabalha com eventos

Júlia Ramos, especial para Gazeta do Povo
07/06/2017 13:57
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Dores nos pés, assédio e até dificuldades em se locomover são apenas alguns das dificuldades enfrentadas no trabalho com eventos. Foto: Bigstock

O recente caso da modelo norte-americana Rachel Rickert, que acusa a marca Hyndai de demiti-la por ficar menstruada durante um evento em Nova York, reacendeu o debate sobre as condições de trabalho das promotoras. Outros casos relacionados à profissão foram destaque recentemente, como quando circularam imagens por redes sociais mostrando modelos com pés muito machucados por sapatos após trabalho em feira em São Paulo e até a morte por pneumonia da promoter Glaucia Pereira, aos 26 anos, alguns dias depois de participar de evento em Curitiba no qual sentiu frio e não pode colocar um casaco em cima do uniforme.
Vinicius Vieira Sacchi, produtor de eventos há 20 anos, afirma que é um mercado complicado e é preciso estar atento. “Há quem trate bem as pessoas contratadas, mas tem quem acha que a pessoa deve ficar o dia todo parada naquele lugar, como uma máquina”, comenta.
Thais Resende de Brito concilia o trabalho de promotora de eventos com o de designer freelancer. Quando era estudante trabalhava apenas para ajudar a pagar materiais da faculdade, mas desde o final de 2014 encara o trabalho com mais seriedade. Ela acha que as duas profissões se complementam bem e os eventos deixam a rotina mais dinâmica. “Tem quem encare como bico, mas também tem muita gente que sobrevive só disso”, diz.
O salário varia de acordo com a quantidade de horas e se o contrato é feito direto com cliente ou por meio de agência. Em média, de acordo com Thais de Brito, um evento com duração de seis horas paga entre R$ 80 até R$ 180. Em alguns casos, como em casamentos, o trabalho pode durar 12 horas. Também nas feiras setoriais cada estande costuma ter uma recepcionista que passa o dia inteiro em pé e no mesmo lugar. A quantidade de horas é especificada nos contratos, mas Thais comenta que as vezes o trabalho acaba mais cedo e outras o cliente pergunta a possibilidade do promotor trabalhar mais horas. “Mas a re-negociação do valor pago, por conta das horas a mais, tem que partir do promotor, o cliente não vai falar nada”.
Thais Resende de Brito é promotora de eventos e designer (Foto: Arquivo Pessoal)
Thais Resende de Brito é promotora de eventos e designer (Foto: Arquivo Pessoal)
Ela comenta que é normal ver promotoras em situações desconfortáveis e com roupas muito justas, curtas ou decotadas. A designer e promotora pede para ver o uniforme antes de aceitar o trabalho, mas lembra que quem está começando acaba se sujeitando por receio de perder outros eventos, e lembra que também há pessoas que não se incomodam em usar esses tipos de roupas.
Além das roupas e da quantidade de horas em pé, a promotora comenta que são constantes os assédios. “Nem sempre os homens entendem que estamos trabalhando – muitas vezes temos que dar um sorriso amarelo e tentar sair dali. Nunca ninguém encostou em mim, mas sei que esse tipo de coisa acontece”, diz.
Para quem está começando a trabalhar com eventos, Thais indica a compra de sapatos de salto que sejam muito confortáveis, já que passam horas em pé, e descansar ao máximo antes e depois de cada evento.
O ortopedista Lucio Ernlund, presidente do Instituto do Joelho e Ombro de Curitiba, orienta quem trabalha muitas horas em pé, ou sentado, a realizar atividades físicas regularmente para prevenir dores musculares e nas articulações. O médico também lembra que o uso do salto alto por períodos prolongados pode causar varizes e problemas no joelho.
Para quem relatar?
Os promoters do Paraná são representados pelo Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros, Colocação e Administração de Mão-de-obra, Trabalho Temporário, Leitura de Medidores e de Entrega de Avisos no Estado do Paraná (Sineepres). O presidente do sindicato, Paulo Rossi, estima que  duas mil pessoas trabalhando em eventos em Curitiba e Região Metropolitana. Ele informa que a imensa maioria realiza contrato temporário com as agências, o que não implica na assinatura da carteira de trabalho.
Rossi conta que os trabalhadores em eventos que procuram o sindicato normalmente buscam informações sobre como é realizado o pagamento. O sindicato já recebeu denúncias de assédio, mas segundo o presidente esses casos têm diminuído nos últimos anos, especialmente devido às fiscalizações feitas pelo Ministério Público do Trabalho com empresas ilegais. De acordo com ele, as agências maiores costumam tratar bem os promotores que contratam.
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