Saúde e Bem-Estar

Redação, com informações do The Washington Post

O que é mais eficaz para parar de fumar: cigarro eletrônico ou adesivos?

Redação, com informações do The Washington Post
11/02/2019 17:39
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Foto: Divulgação

O cigarro eletrônico (e-cigarrette; caneta vapor) se mostrou quase duas vezes mais efetivo do que as terapias de reposição de nicotina, como adesivos e pastilhas, para ajudar fumantes a largarem o vício. A conclusão é de um novo estudo, publicado no fim de janeiro de 2019, que imediatamente esquentou o debate sobre se os cigarros eletrônicos são uma importante ferramenta para parar de fumar ou uma ameaça à saúde.
A pesquisa, divulgada pelo periódico científico New England Journal of Medicine, é a primeira a realizar um estudo randomizado que teste a efetividade dos cigarros eletrônicos versus produtos de reposição de nicotina, conforme afirmou Peter Hajek, médico da Universidade Queen Mary, em Londres, autor principal da pesquisa.
Os pesquisadores descobriram que 18% dos usuários de cigarros eletrônicos pararam de fumar depois de um ano, comparado com 9,9% daqueles dos que estavam no grupo de reposição de nicotina.

“Por anos os médicos estavam relutantes em recomendar cigarros eletrônicos para parar de fumar em razão da falta de dados de pesquisas clínicas. Isso deve mudar agora”, disse Hajek, ao jornal norte-americano Washington Post.

No Brasil, e-cigars são proibidos: na teoria

Qualquer dispositivo eletrônico para fumar tem a comercialização, a importação e a propaganda proibidos no Brasil, conforme medida adotada em 2009 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O objetivo é que a proibição atue como precaução, até porque os cigarros eletrônicos não têm a segurança (e nem a eficácia) comprovada, conforme alerta a própria entidade.
Ainda assim, o consumo dos cigarros eletrônicos não é proibido no país e até mesmo a compra do produto (e dos acessórios) consegue ser feita sem muitos problemas. Em uma rápida pesquisa nos mecanismos de buscas pelos termos “cigarro eletrônico onde comprar”, a maioria das respostas das primeiras páginas traz lojas e sites que oferecem os e-cigarrettes a preços que variam de R$ 100 a R$ 500, com algumas diferenças conforme as marcas.

Jovens e adultos conseguem adquirir os itens via internet, mas há quem prefira comprá-los em uma viagem a países onde o comércio seja liberado. 

Nos Estados Unidos, a marca de e-cigars que mais cresce em procura é a Juul. A fama deste dispositivo vaporizador vem do encantamento dos jovens com a oferta de oito sabores viciantes, como hortelã, manga, crème brûlée, pepino e mix de frutas. Embora tenham outros sabores em estoque, em uma reportagem da revista norte-americana New Yorker, os representantes da marca alegaram que não lançariam novidades — na tentativa de evitar a procura pelo público mais jovem.
Esse é o principal receio das entidades médicas de lá, mas também do Brasil. Em 2017, a Associação Médica Brasileira em parceria com uma série de entidades médicas enviaram à Anvisa um documento apoiando a proibição dos e-cigarrettes no país. Os médicos argumentam que, além da nocividade que esses itens podem ter, esses produtos são capazes de atrair um público jovem, que não tinham o hábito de fumar, incentivando o vício.

Efeitos benéficos em descrédito pelos médicos

 Foto: Bigstock
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Na mesma publicação em que foi divulgado o estudo inglês associando positivamente os cigarros eletrônicos à redução no uso do cigarro tradicional, dois editoriais jogaram água fria nos resultados da pesquisa.
Em um deles, escrito por pesquisadores norte-americanos da Universidade de Boston, a afirmação é de que os cigarros eletrônicos deveriam ser usados apenas quando os tratamentos recomendados pelo FDA- Food and Drug Administration (órgão que regula medicamentos e tratamentos nos Estados Unidos) não funcionem.

“As terapias aprovadas, assim como drogas como bupropiona, possuem taxas de efetividade mais altas do que as que o estudo sugere, e sabe-se muito mais sobre os efeitos colaterais”, disse Belinda Borrelli, pesquisadora da universidade e uma das autoras do editorial.

Belinda ressalta que os cigarros eletrônicos trazem riscos sérios, incluindo perigo potencial aos pulmões por causa dos saborizantes e também a possibilidade de que algumas pessoas acabem fumando, além da versão eletrônica, os cigarros tradicionais.
Em outro editorial, os pesquisadores pediram que o FDA proibisse imediatamente todos os cigarros eletrônicos saborizados, alegando que esse seria o motivo para o aumento do consumo do produto entre os adolescentes.
“Temos medo do surgimento de uma geração de adolescentes viciados em nicotina”, afirmou o autor principal, Jeffrey Drazen, que é editor-chefe do NEJM (New England Journal of Medicine). Tal proibição iria além dos planos do FDA de restringir  as vendas de cigarros eletrônicos saborizados.
David Abrams, professor de ciências sociais e do comportamento na Universidade de Nova Iorque, que é um apoiador dos cigarros eletrônicos, criticou o editorial que pede pela proibição. Ele reforça que o estudo traz “evidências muito fortes” de que o cigarro eletrônico “pode ajudar a parar de fumar de forma tão ou mais eficiente do que as terapias de reposição de nicotina no longo prazo. Qualquer pessoa que fume deveria estar trocando para o cigarro eletrônico imediatamente.”

E-cigars e câncer

No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) alerta que o cigarro eletrônico não é um produto inofensivo, tem substâncias cancerígenas e aditivos com sabores, com efeitos tóxicos ainda desconhecidos. Os efeitos de longo prazo na saúde ainda não são completamente estudados.
“O consumo dos cigarros eletrônicos não é recomendado. Qualquer produto derivado do tabaco causa dependência e é prejudicial à saúde”, adverte Andrea Reis, do INCA.
De acordo com o Instituto, a forma como o produto vem sendo divulgado em diferentes países é problemática, pois leva as pessoas a acreditaram que é um produto menos nocivo do que os cigarros convencionais. “As mesmas técnicas de marketing e publicidade usadas no passado com os cigarros tradicionais, passando a imagem de que não há riscos, acabam estimulando o consumo deste produto por crianças e jovens”, alerta Andrea.
Quem deseja parar de fumar deve procurar a Unidade Básica de Saúde perto de casa. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito aos dependentes da nicotina.
Os medicamentos disponibilizados pelo Ministério da Saúde para o tratamento do tabagismo na Rede do SUS são os seguintes: Terapia de Reposição de Nicotina (adesivo transdérmico e goma de mascar) e o Cloridrato de Bupropiona.
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