Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo com agência O Globo

Epilepsia impede que a pessoa viaje de avião?

Amanda Milléo com agência O Globo
02/09/2016 14:00
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O sobrepeso da aeronave impediu a decolagem. O voo atrasou mais de duas horas. (Foto ilustrativa: VisualHunt)

Helen Stephens estava pronta para viajar de Londres para a Grécia, para o casamento de um amigo, quando se sentiu mal, na manhã da última quarta-feira (31). As crises de epilepsia são velhas conhecidas da modelo de 30 anos, e em poucos segundos ela recobrou a consciência. Atendida pelos paramédicos do aeroporto, e liberada para embarcar, Helen foi barrada pela equipe da companhia aérea EasyJet.
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“Se eu tivesse de ser carregada para fora do avião e levada para um hospital, eu entenderia totalmente. Mas uma pessoa que está falando e andando, que pode se levantar, guardar seu passaporte e sair do avião? Foi muito constrangedor”, disse a modelo em entrevista ao jornal britânico The Independent.
Em resposta, a companhia aérea disse que “a saúde e bem-estar dos seus passageiros a bordo é de primordial importância, e a EasyJet só permite que um passageiro viaje se os funcionários de embarque, o capitão e a equipe de bordo estiverem certos de que ele tem condições de voar”.
Mas Helen estava em condições de voar – ela só esbarrou no preconceito das outras pessoas perante a doença, segundo a médica neurologista Tallulah Spina Tensini, do hospital Marcelino Champagnat. “A pessoa que tem epilepsia tem a tendência a ter crises. Às vezes ela não dormiu direito, passou a noite em claro, está desidratada, está muito estressada, e isso pode desencadear uma crise, mas não é motivo para não viajar de avião. A epilepsia não é contagiosa. A única preocupação de quem está perto é que mantenha a pessoa segura. Passada a crise, vira a pessoa de lado, e espera voltar ao normal”, explica a médica.
Pelo menos 1% da população mundial tem epilepsia e só no Brasil a estimativa é de três milhões de casos. Embora seja comum ainda existe muito preconceito com a doença. “É triste ver pacientes perdendo muito da qualidade de vida por preconceito, por desconhecimento. Acham que a pessoa vai se engasgar com a língua, acham que a doença é contagiosa. Uma convulsão pode ser feia, mas tudo que o paciente precisa é que as pessoas fiquem ao lado, mantenham-no seguro, e contem o tempo. Se passar de cinco minutos, é importante chamar um médico”, afirma a neurologista.
Primeira vez é mais preocupante
Caso a modelo tivesse tido uma crise de epilepsia pela primeira vez, a recomendação médica seria bem diferente. “Nessa situação, não indico que viaje logo em seguida. É melhor que vá para o hospital e investigue o que aconteceu, porque a crise pode ser a primeira de uma epilepsia ou sinal de algo mais grave. Pode ser a indicação de uma infecção grave, pode ocorrer se a pessoa bateu a cabeça antes, pode ser sinal de algumas doenças neurológicas, como um tumor na cabeça, ou mesmo um AVC que pode começar com uma crise”, relata Tallulah.
Tire suas dúvidas sobre a epilepsia
O que é? A epilepsia é uma doença neurológica, que acontece quando há uma desorganização entre os neurônios, afetando o funcionamento de um grupo deles, de acordo com informações da Academia Brasileira de Neurologia. O tipo de crise está relacionado à área do cérebro com essa disfunção.
O que desencadeia? A doença se desencadeia por um somatório de fatores, inclusive o fator genético. O meio pode influenciar quando a pessoa sofrer um trauma, batida na cabeça, se tiver problemas durante a gravidez, e o próprio envelhecimento pode ser um fator de risco. O pico de maior incidência de novos casos ocorre na infância e na velhice, depois dos 60 anos. Outra condição que pode desencadear a epilepsia é a neurocisticercose, uma infecção parasitária acometida pela ingestão de alimentos ou água contaminados e mãos sujas.
Tratamento? Para cada tipo de crise, existe um remédio específico, com uma dosagem também individual. Tomar o remédio, porém, não é garantia que o paciente fique sem crises. Às vezes, a pessoa tem uma epilepsia chamada de refratária, e as crises continuam apesar do tratamento. Para essas pessoas, não é preciso ter medo, nem preconceito, nem abrir suas bocas, apenas esperar que a crise passe, e mantê-la segura.