Saiba o que desencadeia cada tipo de alergia, doença que atinge cada vez mais pessoas no mundo
Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo
30/09/2018 17:00
A herança genética é a base para se desenvolver alergias em graus variados de gravidade. Foto: Bigstock
As alergias são inimigas íntimas de muita gente. Elas são caracterizadas por uma reação anormal e específica do organismo após uma sensibilização por alguma substância estranha que não gera preocupações na maior parte dos indivíduos. Essa resposta exagerada do sistema imunológico, que causa reações de hipersensibilidade, é mais comum em pacientes geneticamente predispostos a reagir diante de agentes como ácaros, fungos, insetos, alimentos, medicamentos, pólen e animais, por exemplo.
A herança genética é, portanto, a base para se desenvolver alergias em graus variados de gravidade – de uma irritação menor a uma anafilaxia (uma reação grave, aguda e potencialmente fatal). Estima-se que os processos alérgicos acometam de 10% a 20% da população mundial, com elevado comprometimento da qualidade de vida, o que os tornam um problema de saúde pública.
A médica e diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Alexandra Sayuri Watanabe, conta que as reações alérgicas podem envolver qualquer parte do corpo. “Porém, são mais prevalentes nas vias respiratórias e na pele”, afirma. Relacionamos aqui as doenças alérgicas mais comuns e que atingem pessoas em diferentes idades – de crianças a idosos.
Alergias respiratórias
São doenças inflamatórias crônicas que acometem as vias respiratórias. Asma e rinite são as mais comuns e se manifestam através de sintomas bem típicos. Dados da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia apontam que, no Brasil, há cerca de 20 milhões de asmáticos. No mundo, são 300 milhões, o que torna a asma uma das doenças crônicas mais prevalentes.
Ela se caracteriza pela inflamação crônica das vias aéreas, que ficam mais estreitas e causam dificuldade respiratória. Esse estreitamento pode ser revertido de forma espontânea ou com o uso de medicamentos.
Os sintomas mais comuns são falta de ar, tosse, chiado e sensação de aperto no peito, que surgem durante crises provocadas por, entre outros motivos, reações alérgicas.
“Os principais fatores desencadeantes são a fumaça do cigarro, produtos químicos, aeroalérgenos como pólen, esporos de fungos e partículas de ácaros, ambientes muito poluídos, infecções respiratórias e poeiras orgânicas.
Restos alimentares em móveis como sofás, mesas e camas também representam perigo para os portadores da doença, pois os ácaros são atraídos por migalhas de comida”, diz o pediatra do Hospital Pequeno Príncipe, Nilton Kiesel Filho. Segundo ele, evitar o contato com produtos de higiene e limpeza com odores fortes, ventilar bem os ambientes, não deixar acumular pó em tapetes, cobertas e bichos de pelúcia e sair de casa em dias de limpeza e faxina são atitudes que controlam o desencadeamento de crises de asma, especialmente em crianças.
A rinite alérgica, por sua vez, se manifesta através de coriza, congestão nasal, coceira em nariz, olhos, garganta e ouvidos, espirros repetidos e olhos avermelhados e irritados.
Crises de rinite muito frequentes podem levar a outras complicações, como infecções (sinusite, amigdalites, faringites e otites, por exemplo) que devem ser controladas com antibióticos. A rinite alérgica é diagnosticada a partir de uma avaliação do histórico pessoal e familiar, além da análise de outros achados no exame físico. Testes alérgicos realizados na pele ou no sangue ajudam a determinar o diagnóstico. “Controlar os ácaros e a poeira nos ambientes onde vive a pessoa alérgica, é essencial para o alívio e controle das crises”, continua o pediatra.
Alergias dermatológicas
Na pele, as lesões são em forma de placas avermelhadas, com coceira intensa, localização variável e curta duração. Em urticárias agudas ou crônicas, a identificação da causa que originou o problema é feita com base na história clínica do paciente e em exames complementares.
“A maior novidade no tratamento da urticária crônica é o omalizumabe, um anticorpo monoclonal anti-IgE, que diminui a ativação da célula responsável pela liberação de histamina, a principal substância relacionada aos sintomas da urticária. Ele é indicado a todos os pacientes que não respondem a doses altas de anti-histamínicos, e tem uma eficácia maior que 70%, com poucos efeitos colaterais significativos”, diz o médico alergista e imunologista Luís Felipe Ensina, da ASBAI.
Alergias alimentares
A maior parte dos casos de reações adversas aos alimentos é de origem não alérgica, como é o caso das reações tóxicas e das intolerâncias alimentares. Para se caracterizar como uma alergia alimentar, é preciso o envolvimento do sistema imunológico, que responde de forma exagerada contra constituintes dos alimentos, independentemente da quantidade consumida.
A alergia alimentar se manifesta na pele, no aparelho gastrointestinal e como anafilaxia. Muitos alimentos são capazes de causar reações alérgica, a exemplo do leite de vaca, ovo, amendoim, soja, nozes, peixes e frutos do mar (um grupo de alimentos que, segundo a ASBAI, estão entre aqueles que mais causam alergia, mesmo em pessoas que nunca apresentaram alguma reação anterior). Nesse tipo, é importante alertar que alergia ao leite é diferente de intolerância à lactose.
Alergia medicamentosa
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), uma reação adversa a um medicamento é “qualquer efeito nocivo, não intencional e indesejado de uma droga, observado nas doses terapêuticas habituais em seres humanos para fins terapêuticos, profiláticos ou diagnósticos”. Nesse caso, o sistema imunológico interpreta o medicamento como uma substância estranha e capaz de gerar algum dano, atacando-a. “Medicamentos usados sem orientação médica são os que mais causam alergias”, afirma Luís Felipe.
Quais os sintomas?
Cada tipo de alergia é responsável pela manifestação de sintomas específicos, em diferentes partes do corpo – dos seios nasais ao sistema digestivo. A Mayo Clinic, uma organização sem fins lucrativos da área de serviços médicos e de pesquisas médico-hospitalares localizada nos Estados Unidos, relacionou os principais sintomas em diferentes tipos de alergias.
Segundo a organização, quem sofre de rinite alérgica pode ter espirros, nariz escorrendo e entupido e olhos lacrimejantes e avermelhados. A alergia alimentar pode causar inchaço nos lábios, rosto, garganta e língua, além de urticária, formigamento na boca e, em casos mais graves, anafilaxia. Uma alergia a picadas de insetos, bastante comum entre as crianças, se revela através de edema no local afetado, coceira no corpo, tosse, aperto no peito e também anafilaxia.
A alergia a medicamentos pode apresentar urticária, comichão, rash, erupção cutânea, edema facial, chiado e anafilaxia. Qualquer pessoa que apresentar sintomas de alergia deve buscar auxílio médico especializado (alergista ou imunologista).
Se as manifestações forem graves, deve-se buscar atendimento em um serviço de emergência. Alguns dos sintomas graves incluem falta de ar, edema de glote (garganta “fechada”) e inchaço nos lábios e olhos.
Identifique os vilões e fique longe deles
Para quem sofre com alergias respiratórias, basta o mínimo contato com alguns agentes desencadeadores de crises. Entenda o mecanismo de cada um, facilmente encontrados no dia a dia.
Ácaros
Os ácaros são os principais responsáveis pelos sintomas de alergia respiratória. Não visíveis a olho nu, suas fezes representam o maior grau de alergenicidade do ácaro, que se alimenta de pele descamada e outras substâncias ricas em proteína. Seu desenvolvimento acontece em lugares com muito pó, pouca luminosidade e umidade maior que 50%. São encontrados com frequência em colchões, travesseiros, tapetes e brinquedos de pelúcia.
Fungos
Eles estão em suspensão no ar e em ambientes fechados como sótãos, porões e armários, mas podem aparecer também em banheiros, cozinhas, nos rejuntes de azulejos, em aparelhos de ar condicionado sem a devida manutenção, colchões, travesseiros e em locais quentes e mal ventilados. Os fungos gostam de umidade, o que explica sua abundância em regiões próximas ao mar. Todo local com umidade elevada e poeira pode ser uma ótima oportunidade para a instalação de fungos.
Animais
Ao contrário do que muitos pensam, não são os pelos dos bichinhos que causam diretamente alergia em pessoas predispostas, mas as proteínas da saliva e urina grudadas na pelagem.
Pólen
Pólens são grãos microscópicos responsáveis pela fecundação e consequentemente desenvolvimento das plantas. No período de polinização, o pólen de determinadas espécies é levado pelo ar, causando alergia respiratória por inalação. Esse tipo de alergia é mais frequente em algumas regiões da Europa, Argentina, Estados Unidos e nos estados da região sul do Brasil.